sexta-feira, 5 de março de 2010

É Este o Inevitável Que Devo Alterar... COMO?

"Vejo-lhe, com total nitidez, a expressão inquisidora do olhar e ouço-lhe a voz; ele deve ter entre 50 e 55 anos. É um auditório já bastante antigo, de poltronas marrons, ao menos aparentemente, não muito confortáveis. E, ao lado dele, há outras pessoas sentadas. Contudo, apenas me chega o rosto de uma mulher sentada à direita dele. Ela tem cabelos curtos e ondulados, está com os dedos entrelaçados, mãos apoiadas numa mesa comprida e improvisada, que não combina com o lugar; amedronta e pressiona. Há outras pessoas, sentadas mais atrás, recolhidas à luminosidade que apenas foca quem está sendo inquirido. Vejo um rapaz, bem lá atrás, do meu lado esquerdo, quase deitado na poltrona e bem apoiando a cabeça com a mão direita. Este rapaz tem olhos castanhos escuros; não está usando óculos. Há algo na camisa dele, algum detalhe; fecho os olhos, mas não sei que detalhe é. É uma prova oral. Voltada para eles e apoiada, num pequeno e alto banco circular de madeira, estou com um conjunto de calça e blazer azul marinho e meus cabelos estão trançados. O homem, ele tem os cabelos pintados de um preto azulado e, não fosse minha tensão, eu estaria com vontade de rir. Ele pergunta se estou nervosa. Respondo "Sim". Há uma outra pergunta aqui, porém eu não estou conseguindo captá-la agora... Depois ele me questiona o que aconteceria se ele me perguntasse algo que não sei. Digo-lhe que falaria "Eu não sei." Ele se rearruma na cadeira e me lança uma questão sobre demarcação de terras, em procedimentos especiais e fala um termo muito, muito específico e que eu não estou conseguindo sentir. Parece algo sobre uma medida... Sinto as minhas mãos geladas e as pernas trêmulas e, pelo menos agora, não consigo perceber mais nada. É um dia 20, parece um sábado, contudo, não vejo o mês e nem o ano..."
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"Passaram-se alguns meses e recebo muitos telefonemas de parabéns. Adriano telefona para dizer que agora eu tenho dinheiro para um caixão de luxo. As pessoas estão sorrindo, mas não é para mim... É por elas. Minha alma quer vestir luto e tenho vontade de desaparecer da face da Terra; estou com vergonha de mim mesma, pela primeira vez em toda a minha vida."

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