quinta-feira, 27 de agosto de 2020

"É necessário que o 'vi a morte de muito perto' seja permanentemente convertido em energia para o 'vejo a vida de mais perto ainda'." (Luiselza Pinto)

Nenhuma das pessoas que me são próximas viveu a dolorosíssima situação impensável pela qual passei. Nenhuma pessoa conhecida atravessou o absurdo que vivi. Assim devo seguir, andando no silêncio de quem, pela falta de ouvinte conhecedor, não tem com quem compartilhar uma experiência dificílima e trocar impressões e sensações e observações. 
Quem acreditaria que estou viva, se nem mesmo eu acredito? É justo aqui que me apresso, visando à queda; tanto gosto do chão, esse amigo irremovível. A brutalidade inimaginável de um ato inesperado não me levou deste mundo, não me tirou a fome, não me fez ter depressão, não me levou à insônia e moldei todas as consequências a ponto delas não me destruírem, mas sim tão apenas me fortalecerem e me firmarem.
Todavia, as coisas ou têm preço ou têm valor. Continuar viva, no sentido de sempre estar bem, não saiu de graça, embora, somente de continuar olhando as estrelas, sentindo o sol a me escaldar o rosto, ver os gatos correndo, escutar música, respirar... nenhum valor é alto.
Hoje estou muito mais sozinha do que ontem e sei que amanhã estarei muito mais sozinha do que hoje. Não tenho medo. Não preciso de consolo. Não preciso de remendo; estou inteira. Acordo, olho o sol; busco as estrelas à noite; o pensamento me acaricia. Um passo bem maior do que as minhas pernas, como ato e/ou fato, se aproxima? Tanto gosto do chão, esse amigo irremovível...
Não sei se termino o meu próximo ciclo respiratório e minha métrica de espaço tempo é desse naipe; não calculo horas, dias, semanas, meses, anos... Se, se e se, a vida me permitir, desde que resolvendo uma longa e bastante complexa situação acolá, desejo conhecer a Coréia do Sul e lá andar de bicicleta. 
Se a vida é um palco, estou num monólogo, a plateia está completamente livre. Sigo, lutando desesperadamente para preencher o vazio depois do nada e para transmudar o cansaço em energia; e alegria... E agora, mais do que nunca, sou eu, eu, eu e a certeza de só eu.